WebRádio Trindade Santa: setembro 2010

terça-feira, 28 de setembro de 2010

É preciso reconhecer-se frágil


Quantas vezes perdemos a oportunidade de aprender?

O bom treinador é aquele que sabe salientar a qualidade do atleta, mas, sobretudo, sabe encaminhá-lo para a superação dos seus limites. Assim, não é possível falar de crescimento humano se antes não falarmos de reconhecimento dos nossos limites. O primeiro passo é reconhecer onde nós precisamos melhorar.
Lamentavelmente, as pessoas não estão preparadas para nos educar para a coragem. Muitas vezes, os incentivos que nos são dados estão mais voltados para esquecermos as nossas fragilidades. Não estamos preparados para encarar a fragilidade. Parece que a nossa educação está sempre voltada para nos revestir de uma coragem que nos faz esquecer o limite. E quando mostramos as nossas fragilidades, há uma série de repreensões.
Nós, humanos, temos uma dificuldade imensa de lidar com a fragilidade do outro – ainda que seja nosso filho. Nós gostamos é de todo mundo feliz. Você já reparou que nós não deixamos a criança chorar? Já reparou que quando o recém-nascido chora, nós fazemos de tudo para calar a boca dele?
Estamos em processo de feitura. Não estou pronto. Eu não sou perfeito, estou por ser feito. Estou sendo feito aos poucos. E no processo de ser feito aos poucos, eu vou descobrindo onde é que dói o espinho da minha limitação.
Quanto mais uma pessoa está aperfeiçoada no processo de ser gente, tanto maior é a facilidade dela de conhecer limites. Ter coragem é descobrir onde está a nossa fragilidade e ali trabalhar com maior empenho. E aí é que entra a grande contribuição do Cristianismo, numa proposta antropológica. Deus não quer que você seja um anjinho na terra, mas que você permita que Ele lhe mostre onde estão os seus limites para que você lute.
Cara feia, arrogância... Isso é complexo de inferioridade e por trás disso se oculta a insegurança. A pior ignorância é aquela que finge que sabe! Temos medo de mostrar que não aprendemos. Quantas vezes na nossa vida, por medo, perdemos a oportunidade de aprender. Às vezes, por medo de expor a nossa fragilidade, perdemos o direito de chorar. E muitas vezes, choramos e não sabemos o porquê estamos chorando.
O ensinamento de Jesus é sempre o avesso do avesso. Quer ser santo? Assuma que você é fraco. Muitas vezes, neste processo de nos conhecer, nós sangramos. E nós precisamos sangrar. Quantas vezes você não se viu traduzido em uma canção de alguém, que teve a coragem de "sangrar" e não teve medo de mostrar as próprias fragilidades.
Para quantas pessoas você teve coragem de "sangrar" e de se mostrar? As pessoas que o enxergam por dentro são raras.
Nós somos todos iguais. Nós padres somos todos iguais. Não adianta fingirmos que somos fortes ou ficar fingindo que não sentimos nada e que não temos medo. É muito melhor nós admitirmos que temos medo.
Conversão é isso. É você educar o seu filho para ele poder lhe contar onde estão os "espinhos" na vida dele. O espinho não é o defeito, mas é a seta que nos mostra onde temos que trabalhar para ser melhores. O que vai sobrar de nós é a nossa vontade de amar. É preciso reconhecer-se frágil.
Padre Fábio de Melo

domingo, 26 de setembro de 2010

Evangelho do dia - 26/09/2010


Lc 16,19-31

Jesus continuou:
- Havia um homem rico que vestia roupas muito caras e todos os dias dava uma grande festa. 20Havia também um homem pobre, chamado Lázaro, que tinha o corpo coberto de feridas, e que costumavam largar perto da casa do rico. Lázaro ficava ali, procurando matar a fome com as migalhas que caíam da mesa do homem rico. E até os cachorros vinham lamber as suas feridas. O pobre morreu e foi levado pelos anjos para junto de Abraão, na festa do céu. O rico também morreu e foi sepultado. Ele sofria muito no mundo dos mortos. Quando olhou, viu lá longe Abraão e Lázaro ao lado dele. Então gritou: "Pai Abraão, tenha pena de mim! Mande que Lázaro molhe o dedo na água e venha refrescar a minha língua porque estou sofrendo muito neste fogo!"
- Mas Abraão respondeu: "Meu filho, lembre que você recebeu na sua vida todas as coisas boas, porém Lázaro só recebeu o que era mau. E agora ele está feliz aqui, enquanto você está sofrendo. Além disso, há um grande abismo entre nós, de modo que os que querem atravessar daqui até vocês não podem, como também os daí não podem passar para cá."
- O rico disse: "Nesse caso, Pai Abraão, peço que mande Lázaro até a casa do meu pai porque eu tenho cinco irmãos. Deixe que ele vá e os avise para que assim não venham para este lugar de sofrimento."
- Mas Abraão respondeu: "Os seus irmãos têm a Lei de Moisés e os livros dos Profetas para os avisar. Que eles os escutem!"
- "Só isso não basta, Pai Abraão!", respondeu o rico. "Porém, se alguém ressuscitar e for falar com eles, aí eles se arrependerão dos seus pecados."
- Mas Abraão respondeu: "Se eles não escutarem Moisés nem os profetas, não crerão, mesmo que alguém ressuscite."

Reflexão: O REINO A QUE VOCÊ PERTENCE


Conta-se que, certa ocasião, um imperador alemão realizou uma visita a uma das mais afastadas províncias dos seus domínios. Passando por uma pequena escola, situada à beira da estrada, em uma zona rural, resolveu interromper a viagem e visitar os alunos. Professores e crianças o receberam com emoção, respeito e acatamento.
No meio de tanto entusiasmo, houve quem improvisasse um discurso para saudar o ilustre personagem. O imperador ficou surpreso e feliz com a recepção. Percebendo que a classe era viva, inteligente e desinibida, sentiu-se muito à vontade entre os alunos. Depois de os ouvir cantar, declamar, discursar, ele resolveu se divertir um pouco com eles.

Pediu ao seu secretário que lhe trouxesse uma laranja e, mostrando-a aos meninos e meninas, perguntou:
Qual de vocês é capaz de me responder a que reino pertence esta fruta que tenho na mão?
Ao reino vegetal. - Respondeu, de imediato, uma garota risonha, de olhos brilhantes e muito comunicativa.

Surpreendente! Disse o imperador. E continuou:
Já que você respondeu com tanta precisão, vou lhe fazer duas outras perguntas. Espero que você responda correta e imediatamente.
Se me responder sem hesitar, eu lhe dou uma medalha como prêmio. Aceita o desafio?
Aceito, sim, senhor. Falou prontamente a garota.

Então, colocando a mão no bolso de sua farda, tirou uma moeda e a mostrou à menina, indagando:
E esta moeda, a que reino pertence?
Ao reino mineral. Disse ela.

E eu, a que reino pertenço? - Questionou o imperador.
Houve um rápido momento de silêncio. Os colegas se entreolharam. A garota apagou o sorriso alegre. Ficou séria e constrangida. Ficou preocupada em ofender o imperador, dizendo que ele pertencia ao reino animal. Mas, afinal, a resposta seria a correta. Contudo, pensava, poderia perder a medalha e até ser repreendida.
Então, de repente, uma resposta lhe veio à mente. Seus olhos voltaram a brilhar, um sorriso iluminou a sua face e ela respondeu, alto e claro: O senhor pertence ao reino de Deus! A resposta da menina causou admiração entre os colegas, professora e toda a comitiva que acompanhava o imperador. Foi, no entanto, o próprio imperador que mais se sentiu tocado pela afirmativa da garota.

Com voz embargada, entregou a medalha prometida e, emocionado, falou:
Espero que eu seja digno desse reino, minha filha!

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Todos somos de Deus. Grandes e pequenos. Pobres e ricos. Saudáveis e enfermos.
Independente de cor, raça, nacionalidade, todos somos de Deus.
Todos fomos criados por Ele, mesmo que alguns afirmemos não acreditar que Ele exista.
Somos alimentados por Seu amor, todos os dias. E todos alcançaremos, embora em momentos diferentes, o Seu reino de paz, de justiça e amor.
Isso porque Deus ama a todos de igual maneira e oferece as mesmas chances de PAZ, AMOR e FELICIDADE.
E pacientemente espera que aceitemos a Sua oferta.
Todos somos de Deus. Você, eu, a Humanidade inteira!
Não esqueça disso e abra seu sorriso de esperança, renove as suas forças e prossiga no rumo da luz, abraçando o bem.

segunda-feira, 20 de setembro de 2010

Acreditar sem ver



Homem de fé é aquele que não vê e mesmo assim não desiste

Deus não decepciona aquele que busca e espera n’Ele. É belíssima a passagem de quando Moisés é levado pelo movimento das águas e é encontrado pela filha do faraó. Para o povo sair da escravidão, o mar precisou se abrir. O povo, diante da impossibilidade de vencer as águas, se volta contra o profeta e lhe pergunta por que ele os retirara do Egito, se eles não têm como ultrapassar o mar. Diante do questionamento dele, o Senhor lhe diz apenas uma frase: "Diga ao povo que caminhe". Deus não lhe proferiu uma frase que garantisse o milagre, mas que requeria fé.
A expressão de Deus não é uma expressão que facilita a vida, mas que encoraja. O Senhor não facilita, pois quem facilita corre o risco de infantilizar o facilitado e Ele não nos quer infantis na fé. Deus nos quer amadurecidos, prontos para dar o primeiro passo. Fé é saber acreditar quando tudo está ao contrário. Homem de fé não é aquele que vê. É o que não vê e mesmo assim não desiste.
Na experiência do povo de Israel, diante de um povo que o [Moisés] quer matar, Deus não facilita para ele, mas requer sua fé. O povo queria uma reposta mágica, mas Deus dá uma ordem que encoraja, que faz crescer dentro deles a lembrança que aquele Deus que caminhou com eles não os deixará na mão. Nós não sabemos como será, mas não desistimos do que esperamos. Quando tudo indicava que a morte iria chegar, com os pés na água, seguindo a ordem do Senhor, o milagre aconteceu.
Por um lado, eles estavam imobilizados pelo mar que podia afogá-los; por outro, pelo exército que poderia matá-los. Aquele povo estava emparedado. Ser homem e mulher de fé é você viver uma única alternativa: aquela de não poder recuar. É como diz Santo Agostinho: "Deus só nos pede aquilo que Ele já nos deu. Tudo está em nós sob forma de dom".
A experiência da fé nos movimenta para sermos o que realmente somos. Você não tem outro destino, a não ser a santidade; da mesma forma que o povo de Israel não tinha outra opção a não ser a libertação. Ninguém emagrece fazendo novena. Ou nós nos disciplinamos ou não vamos emagrecer!
O que faz um homem ser de fé é a resposta que dá diante da insegurança. Isso é Cristianismo. Não é uma postura angelical, é uma forma de se tornar guerreiro, soldado. Coragem! Vitória é o que Deus quer celebrar na nossa vida por meio da fé.

quinta-feira, 16 de setembro de 2010

O Banquete dos miseráveis


O seu nome já foi chamado...

Um banquete só tem significado para quem tem fome. Os saciados não desejam a proximidade do alimento. A fome é o elemento chave para que possamos desejar e apreciar o banquete.
Da mesma forma, o hospital não tem significado para quem está são. Somente os doentes carecem de hospitalização.
Essa comparação é simples, eu sei. Mas ela nos aproxima de uma verdade ímpar que Jesus fez questão de nos ensinar.
É desconcertante, mas a Eucaristia é o banquete dos miseráveis. Ela é o momento em que Deus se põe à mesa com os escórias da humanidade, com os últimos, os menos desejados.
Miseráveis, famintos, prostituídos, doentes, legítimos representantes da fome. Fome de pão, fome de beleza, fome de dignidade, fome de amor, fome de companhia.
Corações sufocados pela solidão do mundo, pelo descaso dos favorecidos e pela arrogência dos fortes.
A vida sem cuidados, mostrada nos olhos que já não sabem nutrir grandes esperanças. Olhares que nos fazem lembrar o olhar de Mateus, o olhar de Zaqueu, o olhar de Madalena... Olhares que não se sentem merecedores, e que se já se convenceram de que estão condenados.
E então, quando a vida os surpreende com o sorriso de Deus, olhando-os nos olhos, dizendo que está feliz porque eles reapareceram, e que para comemorar esta alegria um banquete lhes foi preparado.
Roupas limpas, banhos demorados, coisa de quem não faz do amor um discurso teórico. O sabonete, o cheiro bom a nos recordar antigas esperanças.
Alegrias nas taças, toalha branca estendida sobre a mesa, o colorido que tem sabor agradável. O melhor vinho, a melhor música, o melhor motivo a ser comemorado. A ceia está posta.
E então eu me ponho a pensar...
Recordo-me do quanto eu não sei viver a Eucaristia com esta mística. Penso no quanto sou seletivo ao pensar naqueles que Deus anda preferindo.
E então, hoje, nesta fração de tempo que passa, em que seus olhos se encontram com meu coração de padre, aqui, nesta tela fria de computador, eu fico desejando lhe convencer do quanto você é amado por Deus.
Ainda que seus dias sejam marcados pela rebeldia, pela derrota, pela queda, não desista! Religião só tem sentido se for para congregar, recordar a miséria como condição que nos torna preferidos...
É simples de entender. Pense comigo: uma mãe geralmente tende a cuidar de forma especial do filho que é mais frágil. Concorda comigo? Pois bem. O que é frágil será sempre velado, cuidado e amado.
Assim é você. Um miserável que tem entrada garantida na última ceia de Jesus.
Não venha com muitos pesos. Traga apenas uma pequena lembrança para o Mestre que o espera. Uma florzinha, um pedacinho de doce, não sei. Você é criativo e saberá escolher melhor.
Que o presente seja pobre, pois assim você descobrirá que o maior presente que Ele pode receber é o seu coração de volta.
Combinados?
Espero que sim.
O seu nome já foi chamado por Ele. Não o deixe esperando por muito tempo.
A casa é a mesma. O endereço você já sabe!

sábado, 11 de setembro de 2010

Escolha o Amor...


Todos os dias fazemos escolhas em nossas vidas. Algumas escolhas são mais simples; outras, mais complexas. Escolhemos a roupa, o sapato, a alimentação, o trajeto. Escolhemos a escola, o trabalho, as prioridades. Como não é possível resolver todos os problemas de uma única vez, vamos escolhendo aqueles que precisam ser solucionados antes. Escolhemos no supermercado, na loja, a forma de pagamento.

Algumas escolhas simples ficam complicadas quando complicamos a vida. Fazer um almoço se torna um calvário para quem está angustiado. Ter de escolher o que fazer e que agrade às outras pessoas da família parece um trabalho insano.Escolher a escola dos filhos. Escolher a mudança de emprego. Aos poucos as escolhas vão exigindo mais reflexão e o resultado da escolha vai ficando mais sério. Uma coisa é escolher a comida errada no cardápio e decidir que não vai pedir mais aquele prato. Outra coisa é perceber que casou com a pessoa errada. A escolha do casamento tem de ser mais demorada do que a do produto de uma prateleira em um supermercado.

Como somos imperfeitos, a dúvida sempre fará parte de nossas escolhas. E é diante da dúvida que amadurecemos. Pessoas que têm certezas absolutas erram mais e sofrem mais com isso. A dúvida nos torna mais humildes, mais abertos ao diálogo.Nesses momentos é que percebemos a nossa maturidade frente aos obstáculos. Os mais concretos ou os mais abstratos.

Uma modesta sugestão: diante das dúvidas que surgirem, escolha o amor. Diante de sentimentos mesquinhos como a inveja, o ciúme, a vingança; escolha o amor. Antes de falar, pense. Mas pense com amor. Antes de agredir, lembre-se de que o tempo da cicatriz é mais demorado do que o tempo do comedimento. Antes de usar a palavra como instrumento de maldizer, lembre-se de que o silêncio é o grande amigo e de que, na dúvida, o outro deve receber a sua compaixão. Diante do comodismo, da alienação, escolha o amor em ação. Assim fizeram os apóstolos, mesmo sabendo que seriam incompreendidos; assim fez Francisco de Assis quando ousou chamar a todos de irmãos; ou João Bosco com os jovens que só se aquietavam quando se sentiam amados.

Assim fez Madre Tereza de Calcutá que fazia a escolha do amor diante de cada próximo que dela precisasse.

Diante da boa dúvida, é bom pedir ajuda. Para os irmãos e para Deus, a Essência do Amor.

Os desafios são muitos. É por isso que sozinho fica difícil. Como diz a canção:

Eu pensei que podia viver, por mim mesmo. Eu pensei que as coisas do mundo não iriam me derrubar.

E a oração continua e, com ela, nossa certeza: Tudo é do Pai. Toda honra e toda glória. É Dele a vitória alcançada em minha vida.

Que sejamos responsáveis em nossas escolhas mais simples ou mais complexas. Mais uma vez, com amor, tudo fica mais fácil e mais bonito!

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