segunda-feira, 19 de abril de 2010
Bento XVI e a pedofilia na Igreja: a realidade
De repente, a moda é falar da pedofilia dentro da Igreja. Episódios do passado, já conhecidos e encerrados, agora são exumados um por um, dentro de certo encadeamento, com a finalidade de exagerar a repercussão pelo mundo, tendo um claro objetivo: desacreditar a Igreja católica e atingir o Papa Bento XVI.
Será mesmo verdade tudo os que os jornais andam propalando? É a pedofilia que se quer combater, ou, na realidade, pretende-se “linchar” o Papa, hostilizado desde sua eleição e, periodicamente, por ocasião de alguma sua declaração ou tomada de atitude mais contundente?
Como se explica tudo isso? A resposta não é difícil. Existe no Ocidente certa cultura que se caracteriza por uma clara posição laicista e anticatólica, cujos porta-vozes são jornais e outros meios de comunicação social. Muitas vezes, por trás deles há os que algum sociólogo qualifica como “empresários morais”, pessoas que promovem e financiam campanhas segundo os próprios interesses.
A Igreja, para essa cultura, cria sérios problemas. Basta pensar na constante defesa da vida e da dignidade da pessoa humana contra interesses de pessoas, grupos poderosos e governos.
Para atacar o Papa, começou-se em Ratisbona (Alemanha), tentando envolver seu irmão, Mons. Georg Ratzinger, que por longos anos dirigiu o coral de meninos da catedral daquela diocese. De fato, no passado houve dois episódios de abuso de meninos desse coral; todavia, tais abusos ocorreram antes que Mons. Georg fosse posto à sua frente; inclusive, já eram conhecidos e estavam encerrados judicialmente.
Entretanto, o nome “Ratzinger” ficou nas manchetes dos jornais e não era difícil prever que se tentaria envolver nos escândalos outro Ratzinger, o próprio Bento XVI.
E assim foi. Procurou-se, então, a arquidiocese de Munique, onde Joseph Ratzinger foi arcebispo nos anos 80; ali desenterrou-se o caso do padre que ficou conhecido como “Padre H.”. Esse padre, tendo-se envolvido em casos de abuso de menores na sua diocese, Essen, foi acolhido por Ratzinger em Munique com a única finalidade de fazer uma terapia; todavia, sem dar conhecimento ao arcebispo, o vigário geral de Munique lhe confiou algumas tarefas pastorais; hoje, o vigário geral reconhece seu erro e assume toda a responsabilidade pelo não cumprimento das orientações de Ratzinger. Este caso também já estava resolvido judicialmente; o próprio tribunal que julgou o acusado confirmou a não responsabilidade do Cardeal Ratzinger.
Perguntamos: esse caso foi descoberto em 1985 e julgado por um tribunal em 1986; por qual motivo um jornal alemão decide exumá-lo 24 anos depois de encerrado?
Outra tentativa de envolver Bento XVI foi feita pelo jornal New York Times – tradicionalmente laicista e anticatólico. Segundo o jornal, em 1996, os cardeais Ratzinger e Bertone (respectivamente, prefeito e secretário da Congregação para a Doutrina da Fé) teriam ocultado o caso do padre pedófilo Murphy e impedido que fosse levado à atenção das autoridades civis.
A realidade é precisamente o oposto. Em 1975, Murphy foi denunciado às autoridades civis; todavia, elas não encontraram provas suficientes para condená-lo. A Igreja, apesar de a denúncia contra ele ter sido arquivada pela magistratura, foi mais severa que o Estado e continuou indagando sobre Murphy e, dado que suspeitava que fosse culpado, tomou medidas para que limitasse seu ministério.
Passados 20 anos, em 1995, num clima de fortes polêmicas sobre os casos dos “padres pedófilos”, a arquidiocese de Milwaukee considerou oportuno entregar o caso à Congregação para a Doutrina da Fé. A Congregação para a Doutrina da Fé não retomou o processo, mas recomendou que Murphy admitisse publicamente sua responsabilidade. Quatro meses depois, Murphy faleceu. Ficou claro, pois, que não houve nenhuma tentativa de ocultamento do caso do padre pedófilo por parte dos cardeais Ratzinger e Bertone, que só souberam do acontecido quando o sacerdote estava para morrer.
Além de exumar esses três “esqueletos”, os meios de comunicação social propositadamente exageram os números de casos de pedofilia na Igreja para dar a impressão de um fenômeno extenso e incontrolável, uma espécie de epidemia.
Repete-se constantemente, por exemplo, que só nos Estados Unidos houve 4.000 casos de abusos de menores por parte de padres. De fato, de 1950 a 2002, 4.392 sacerdotes americanos (sobre um contingente de 109.000 padres!) foram “acusados” de relações sexuais com menores; nem todos os casos, porém, se confirmaram como pedofilia, além de haver uma série de padres inocentes que foram caluniados. Ao mesmo tempo, porém, omite-se que, das 4.392 acusações (não sentenças de condenação), os casos de pedofilia foram somente 958 e levaram a 54 condenações, num período de 42 anos! Repetimos: 54 condenações sobre 109.000 padres!
O número de condenações de padres e religiosos em outros países é semelhante ao dos USA. De modo geral, se se compara a Igreja Católica dos USA com as principais denominações protestantes, as estatísticas mostram que a presença de pedófilos é – dependendo de cada denominação – de 2 a 10 vezes mais alta entre pastores protestantes do que entre padres católicos. Isso mostra que o problema não é o celibato, como alguns insistem em apontar, inclusive o teólogo católico Hans Küng. Note-se também que, enquanto um número reduzido de padres católicos foi condenado por abusos de menores, o número de professores de ginástica e treinadores de times juvenis de esportes (na maioria, homens casados) julgados pelos tribunais americanos beirou os 6.000.
E aqui uma observação importante: segundo o governo americano, dois terços mais ou menos das moléstias sexuais com menores não procedem de estranhos ou de educadores – padres e pastores protestantes – mas de membros da própria família: padrinhos, tios, primos, irmãos e até mesmo pais! Os mesmos dados são confirmados por numerosos países.
Existe ainda um dado mais significativo: mais de 80% dos pedófilos – sejam leigos ou sejam padres – são homossexuais, homens que abusam de outros homens. Por isso, mais uma vez, o problema não é o celibato.
Na Alemanha, a partir de 1995, em todo o país, houve 210.000 denúncias de abusos de menores; os casos ocorridos na Igreja foram apenas 94 (1 sobre 2.000!). Na Irlanda, o Relatório Ryan (sempre muito duro com a Igreja) de 2009, registrou o testemunho de 1.090 pessoas a respeito de casos de violência (não só sexuais, mas sobretudo físicas e psicológicas) no sistema escolar da ilha, de 1914 a 2000. No exame de centenas de violências, os religiosos acusados de abusos sexuais de menores são apenas 23, embora os dados não sejam completos porque em duas escolas o número não foi especificado.
Nas escolas femininas foram acusadas 3 empregadas leigas. Em diversas escolas, os abusos foram de pessoal adido, de visitantes externos ou de alunos maiores, não de sacerdotes. O relatório se refere mais a situações de abandono, violência física e depravação que afetou os métodos educativos de todo o sistema escolar.
No fim das contas, somando tudo o que se sabe sobre pedofilia na Igreja – pelo menos por ora -, trata-se de uns 300 casos de padres pedófilos no mundo inteiro sobre um contingente de 400.000 sacerdotes!
É óbvio que, no futuro, deverão surgir novas denúncias. Mesmo assim, sempre se tratará de um índice mínimo, se comparado com outros índices da sociedade em geral. Isto, naturalmente, não justifica de modo nenhum a prática da pedofilia por parte de membros do clero, que deveriam buscar com persistência a santidade de vida. Todo padre que se mancha com o crime de pedofilia é algo muito repugnante, mesmo quando se trata de um caso isolado; assim como é lamentável o fato de que algum expoente da Igreja tenha ocultado casos. Na verdade, essa era a praxe dos tempos passados: transferir o sacerdote culpado para outro ambiente a fim de não provocar escândalo, deixando de dar a devida atenção à vítima. Por outro lado, pintar a Igreja como um covil de pedófilos e o Papa e os bispos como empenhados em esconder casos, é totalmente falso.
Qual é a reação de Bento XVI aos casos de pedofilia? Bento XVI, dentre os papas contemporâneos, é o que mais se dedicou a corrigir essa chaga da Igreja. Foi esse Papa quem deu impulso decisivo a esta luta, também graças a seus 20 anos de experiência como prefeito da Congregação para a Doutrina da Fé. Como cardeal, favoreceu a reforma também legislativa mais rigorosa nesse assunto.
Em particular, procure-se conhecer a carta que Bento XVI dirigiu aos católicos da Irlanda, simbolicamente a todas as dioceses do mundo. É o primeiro documento de um papa que reconhece coletivamente a culpa da instituição eclesiástica quanto aos abusos sexuais cometidos por decênios e séculos, e vai direta ao coração do problema.
As vítimas foram silenciadas, admite, porque a primeira preocupação foi o bom nome da Igreja e evitar escândalos… Essa, de fato, como vimos, era a mentalidade da época. Pelo contrário, o Papa dá razão às vítimas, que não tinham como fazer ouvir a própria voz. Aos bispos fala de graves falhas, de erros, de falência da liderança, da não aplicação das penas canônicas…, apesar de se tratar de autênticos crimes.
Primeiro dever da Igreja na Irlanda: reconhecer o pecado perante Deus e a opinião pública; usar plena honestidade e transparência, sem nada esconder; os culpados se submeterem à justiça dos tribunais; os bispos colaborarem com as autoridades civis. Não por nada o Papa já aceitou algumas demissões de bispos irlandeses e determinou uma visita canônica minuciosa a toda a Igreja da Irlanda, ordenando uma série de orações e penitências em vista do arrependimento e da mudança de mentalidade e do modo de agir em casos semelhantes.
Na carta, o Papa estigmatiza com determinação o fenômeno, põe a nu sua raiz no afastamento da vida de fé por parte de alguns membros da Igreja e, de forma geral, em certas confusões devidas à secularização e à má interpretação do Concílio Vaticano II. Convida com força os bispos que encobriram casos ou que não reagiram adequadamente diante deles a assumir as responsabilidades dos próprios atos a fim de que não voltem a acontecer no futuro.
É a mesma clareza e determinação que o Papa mostrou durante sua viagem aos USA e à Austrália, quando se encontrou com algumas vítimas dos abusos.
A prova de que a atuação de Bento XVI está produzindo frutos é o relatório da Conferência Episcopal dos USA que mostra que o número das denúncias de supostos casos de pedofilia por parte de eclesiásticos alcançou o mínimo histórico em 2004 (desde quando começaram a ser conferidos).
Portanto, a REALIDADE é bem diversa do que certos meios de comunicação social andam propalando.
Enquanto, de modo geral, os 400.000 sacerdotes no mundo inteiro procuram trabalhar corretamente, há quem aponte o dedo acusador para algumas centenas de padres – sem dúvida dignos de condenação ou de compaixão, conforme o caso – para desacreditar toda a Igreja, particularmente Bento XVI. Agir dessa maneira é trair a verdade e a justiça.
" artigo, escrito pelo bispo emérito de Tubarão (SC), Dom Hilário Moser, que atualmente mora na Comunidade Salesiana da Paróquia Sagrada Família, em São José dos Campos SP"
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