WebRádio Trindade Santa: 16º Dom. do Tempo Comum (Ano C) – A hospitalidade que nos torna discípulos de Jesus

domingo, 18 de julho de 2010

16º Dom. do Tempo Comum (Ano C) – A hospitalidade que nos torna discípulos de Jesus


16º Dom. do Tempo Comum (Ano C) – A hospitalidade que nos torna discípulos de Jesus

Gn 18,1-10a; Sl 14; Cl 1,24-28; Lc 10,38-42
Senhor, quem morará em vossa casa?


O Senhor hoje nos acolhe em sua Casa – Igreja, hospeda-nos ao redor do seu Altar sagrado, para nos falar de hospitalidade. Aquele que nos hospeda bate à nossa porta, humildemente, como hóspede, esperando ser acolhido por nós. Abramos para ele nosso coração e nossa vida. A Palavra de Deus apresenta-nos, dois modos de acolher o Senhor; dois modos distintos, mas que se relacionam e mutuamente se condicionam.
O primeiro modo: acolhendo-o na sua Palavra, como Maria, a irmã de Marta e de Lázaro. Para nós, ela é modelo do discípulo perfeito, pois “sentou-se aos pés do Senhor, e escutava sua Palavra.” (Lc 10,39). Marta também acolheu Jesus, mas é um acolhimento exterior e, portanto, superficial, como o daqueles que são cristãos tão empenhados em trabalhar por Cristo e em falar de Cristo, que se esquecem de estar com Cristo, de realmente dar-lhe atenção na escuta da Palavra e na oração. Ora, é nisto, precisamente, que Maria, hoje, é exemplo para nós: “sentou-se aos pés do Senhor”. Vejamos a disponibilidade, à atenção à Pessoa de Cristo, a disposição em acolher a Palavra que brota do coração do Salvador: “e escutava sua palavra”. Aqui, cabe-nos perguntar: neste mundo dispersivo e agitado, neste mundo da competição e do estresse, tenho tido tempo, realmente, para acolher o Cristo que bate à minha porta? “Eis que estou à porta e bato: se alguém ouvir minha voz e abrir a porta, entrarei em sua casa e cearei com ele, e ele comigo.” (Ap 3,20). Não tenhamos dúvida que grande parte da crise de fé e de entusiasmo de muitos cristãos decorre da falta desse acolhimento íntimo em relação ao Senhor, da incapacidade de hospedá-lo no nosso afeto e no nosso coração pela escuta da Palavra que se torna oração amorosa e perseverante. Talvez sirva para todos nós, ativos em excesso e dispersos contumazes, a advertência de Jesus: “Marta, Marta! Tu te preocupas e andas agitada por muitas coisas. Porém, uma só coisa é necessária.” (Lc 10,41-42). Qual? Que coisa é a única necessária? Estar aos pés do Senhor, abrindo-se à sua Palavra: “Não só de pão vive o homem, mas de toda palavra que sai da boca de Deus” (Mt 4,4). É esta a parte que Maria escolheu e que, por nós escolhida, jamais nos será tirada, porque Deus é fiel!
O segundo modo: trata-se de acolher os outros, de hospedá-los no nosso coração e na nossa vida. Recordemos a cena de Abraão. Colhamos os detalhes. Abraão estava sentado, talvez descansando do almoço, “no maior calor do dia.” (Gn 18,1). Ao ver os estrangeiros que lhe estão próximos, corre ao encontro deles. Observemos sua atitude: não os conhecia, mas corre, com pressa, até eles e os reverencia: “Assim que os viu, correu ao seu encontro e prostrou-se por terra.” (Gn 18,2). Com que insistência faz o convite para que os estranhos comam de sua mesa; que solicitude em preparar rápido o melhor que tem: entrou logo na tenda, tomou farinha fina, correu ao rebanho e pegou um dos bezerros mais tenros e melhores, pegou coalhada e colocou tudo diante dos hóspedes… Por que fez isso? Porque tem fé! Para Abraão, não existe acaso. Notem como ele diz aos estrangeiros: “Pois foi para isso mesmo que vos aproximastes do vosso servo.” (Gn 18,5). Ou seja: fizestes-vos próximos de mim para que eu me faça próximos de vós e vos sirva! É interessante como a situação se inverte: ao início, Abraão estava sentado e os hóspedes, de pé; agora, Abraão está de pé, servindo, e os hóspedes, comodamente sentados. Sem saber, naqueles estrangeiros, acolhidos desinteressadamente, Abraão estava acolhendo o próprio Senhor. E, ao fazê-lo, ao esquecer-se de si para preocupar-se com os outros, tornou-se fecundo: “Onde está Sara, tua mulher?... Voltarei, sem falta, no ano que vem, por esse tempo, e sara, tua mulher, já terá um filho!” (Gn 18,10a). Bendita hospitalidade, que gera vida! Bendito sair de nós, que nos torna fecundos!
Domingo passado, a Palavra nos fazia perguntar: de quem somos próximos? Pois hoje, a pergunta volta insistente: quem são aqueles e aquelas que estão de pé, à porta da minha tenda esperando que eu os acolha no meu coração e na minha atenção? Pensemos nos pobres, nos desvalidos, nos sem amor, nos que caíram, nos que se sentem sozinhos, nos que batem à nossa porta pedindo uma esmola e nos que pedem atenção, respeito, compreensão, perdão e amor. Somos tão tentados ao fechamento no nosso mundo e nas nossas preocupações! E, no entanto, neles, o Senhor bate à nossa porta, pede-nos hospedagem: “Eis que estou à porta e bato...” E isso não é de hoje nem de ontem: desde Belém, que ele está à porta, desde Belém, que ele procura o nosso acolhimento! Desde Belém, “pois não havia lugar para eles na hospedaria.” (Lc 2,7). Então, somente poderemos hospedar Jesus em plenitude quando estes dois modos se completam: hospedá-lo na escuta da Palavra e no silêncio da oração e hospedá-lo naqueles que vêm a nós pelos caminhos da vida.
Conta-se que um senhor da roça, resolveu fazer uma experiência. Motivou-o a isso o fato de que, segundo a sua experimentada opinião, o seu burrinho de carga comia demasiado. Pensou consigo: “vou diminuir a alimentação do animal pouco a pouco e observarei quanto trabalha e se o trabalho rende tanto quanto antes”. Então ele começou a sua experiência com grande êxito, pois no primeiro dia o burrinho trabalhou da mesma maneira que antes. No outro dia, ele continuou diminuindo a ração do animal. Resultado: o animal trabalhava 'quase' da mesma maneira. Então ele pensou consigo: “ainda que coma um pouco menos e renda só um pouco menos, não há problema”. Algo semelhante aconteceu no terceiro e no quarto dia. No quinto dia, ele teve uma grande surpresa: não sabia o porquê, mas o burrinho amanheceu morto.
Muito trabalho, pouca comida! Nós, cristãos, tampouco poderíamos viver 'durante algum tempo' nesse regime: 'muito trabalho, pouca comida' ou – com outra expressão – 'muito trabalho, pouca oração'. Talvez fosse exatamente isso que Jesus reprovava na conduta de Marta: ela trabalhava muito, preocupava-se demasiado, e, no entanto, tinha pouco espírito de oração.
Logicamente, Jesus quer que trabalhemos. Com certeza o trabalho de Marta agradava ao Senhor e, no entanto, ele a anima a dar novas dimensões ao trabalho: além de bem-feito, que seja elevado pela graça de Deus, transformado em oração e oferecido a Deus, como Maria o fazia. Nós, que desejamos dar testemunho de Cristo nas situações mais normais da jornada, não podemos fazer as coisas de qualquer maneira. Um bom católico necessariamente se destaca por ser um bom trabalhador. É impossível que a sua vida de relação com Deus não redunde na sua vida de relação com os outros. Além do mais, procurará ser um profissional de categoria: o melhor advogado, o melhor médico, o melhor motorista, o melhor agricultor, o melhor estudante, a melhor dona de casa, o melhor pai, a melhor mãe, o melhor filho. Que ninguém me venha a dizer que isso é orgulho! Isto deve ser, sempre, para a glória de Deus e para o bem dos irmãos. Guardemos isso no coração: a Deus se oferece da melhor maneira possível aquilo que sabemos fazer: com amor, com perfeição.


(por: Pe. Júlio César Fernandes)
Postado por Pe. Júlio César Fernandes

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