WebRádio Trindade Santa: SANTA MARIA MADALENA

terça-feira, 27 de julho de 2010

SANTA MARIA MADALENA


Maria Madalena é citada três vezes nos Evangelhos, não há porque a identificar com uma prostituta. Ocorrem nos Evangelhos quatro mulheres distintas: a pecadora - anônima - perdoada (Lc 7,36-50); as mulheres que acompanhavam Jesus e lhe serviam com suas posses (Lc 8,1-3); a irmã de Marta e Lázaro (Jo 12,1-12); e a mulher adúltera (Jo 8,1-11). A Maria Madalena que encontramos nos Evangelhos costuma ser identificada, desde o século VII, com a pecadora que lavou os pés de Jesus com suas lágrimas e com a irmã de Marta e Lázaro, pois esta ungiu os pés de Jesus com bálsamo. Esta identificação que faz de três mulheres uma só, hoje em dia não é aceita pelos melhores exegetas.
Eis o que se lê no Evangelho de Lucas: “Jesus andava por cidades e povoados, pregando e anunciando a Boa Notícia do Reino de Deus. Os Doze iam com ele, e também algumas mulheres que haviam sido curadas de espíritos maus e doenças: Maria, chamada Madalena, da qual haviam saído sete demônios; Joana, mulher de Cuza, alto funcionário de Herodes; Suzana, e várias outras mulheres, que ajudavam a Jesus e aos discípulos com os bens que possuíam” (Lc 8,1-3). Detenhamo-nos sobre Maria Madalena. O nome “Maria” era muito comum no povo de Israel, como percebemos em Jo 19,25 onde se lê que, dentre quatro mulheres, três se chamavam Maria.
A predileção por tal nome talvez se deva ao fato de que a irmã de Moisés se chamava Maria (cf. Ex 15,20), tornando célebre o respectivo nome. Daí o uso de um aposto para diferenciar as Marias. Esse aposto podia ser o lugar de origem, no caso desta Maria seria Mágdala, povoado situado à margem ocidental do lago da Galiléia, 5 km ao norte da cidade de Tiberíades. É assim que se explica o nome “Maria Madalena”.
O fato de ter sido possuída por sete demônios não quer dizer que fosse necessariamente uma grande pecadora. Nos Evangelhos, a filha da mulher siro-fenícia (cf. Mc 7,24-30) era possessa, mas pode-se crer que pelo contexto ela estava doente; o mesmo se diga do menino possesso desde sua infância (cf. Mc 9,17-27). Sabe-se, hoje, que as doenças eram atribuídas aos demônios. Os “sete demônios” (número que indica a plenitude) significariam uma doença muito grave. Então, sem dúvidas, podemos dizer que Maria Madalena não era a pecadora que a posteridade imaginou.
Em outros dois evangelhos, na narrativa da Paixão, Morte e Ressurreição de Jesus, também encontramos referencia a Maria Madalena. Em Marcos: “...Maria Madalena, Maria, mãe de Tiago, o menor, e de José, e Salomé... Maria Madalena e Maria, mãe de José, ficaram olhando onde Jesus tinha sido colocado... quando o sábado passou, Maria Madalena, Maria, mãe de Tiago, e Salomé, compraram perfumes para ungir o corpo de Jesus... Depois de ressuscitar na madrugada do primeiro dia após o sábado, Jesus apareceu primeiro a Maria Madalena, da qual havia expulsado sete demônios.” (Mc 15,40.47;16,1.9); E em João: “No primeiro dia da semana, Maria Madalena foi ao túmulo de Jesus bem de madrugada... Maria, tinha ficado fora, chorando junto ao túmulo... Maria virou-se e viu Jesus de pé... então Maria Madalena foi e anunciou aos discípulos: “Eu vi o Senhor.”” (Jo 20,1.11.14.18). Como se percebe, Maria Madalena aparece nos Evangelhos em situações que lhe merecem honra. Como então pôde ser desfigurada como uma prostituta?
De maneira errada, identificam Maria Madalena com a mulher de má vida apresentada em Lc 7,36-50. Se, de Maria Madalena havia saído sete demônios que indicavam uma grave situação de pecadora, pergunta-se: Quando Jesus terá a libertado desses sete demônios? Esta resposta parecia ser encontrada em Lc 7 onde uma mulher aparece na casa de Simão, o fariseu, e coloca-se aos pés de Jesus em prantos por seus pecados pedindo-Lhe perdão, e estes lhe são perdoados. Este episódio ocorrido na casa de Simão é colocado por Lucas logo antes da apresentação de Maria Madalena em Lc 8,1-3; daí a fusão das duas mulheres na imagem de uma pecadora agraciada chamada Maria Madalena. Mas temos aqui um equivoco, pois o evangelista Lucas fez questão de guardar o anonimato da mulher de má vida. Se era uma pecadora conhecida da sociedade, seu nome era também conhecido, mas não nos foi revelado, pois Lucas quer nos mostrar que Jesus é aquele que preserva a dignidade e a integridade de nossa vida. Seja respeitada a delicadeza do evangelista!
No Evangelho de João aparece uma mulher chamada Maria a ungir os pés de Jesus com bálsamo (cf. Jo 12,1-12), identificaram-na com Maria Madalena, de modo que Maria, a irmã de Marta e Lázaro passou a ser conhecida como a pecadora convertida Maria Madalena. Todavia verifica-se que tal identificação é artificial, pois a mulher pecadora de Lc 7 banha os pés de Jesus com lágrimas e só depois disto os unge com bálsamo, ao passo que a irmã de Lázaro não chora, mas aplica diretamente aos pés do Senhor seus perfumes.
Por não levar em conta tais pormenores, vários autores chegaram a identificar Maria Madalena ainda com uma terceira mulher, ou seja, com a mulher adúltera de Jo 8,1-11. Aqui, ocorre o mesmo que em Lc 7, o evangelista João não tem a pretensão de revelar a identidade da mulher, pois o valor maior é sua dignidade: “Pode ir, não peques mais.” (Jo 8,11).
Maria Madalena não era prostituta, o texto bíblico diz que ela possuía sete demônios e, como vimos, entendia-se que a enfermidade era ação de um espírito mau, de um demônio. O número sete indica a plenitude, que no caso de Maria Madalena, indica que ela estava com uma doença muito grave, que dominava suas forças por completo. Jesus na sua missão de comunicar a todos e em todos os lugares, desde a Judéia até a Galiléia, a misericórdia e o amor do Pai, também a comunicou em um desses caminhos a Maria Madalena, curando-a de sua enfermidade, e em gratidão, como tantos, também ela colocou-se no seguimento e cumprimento de sua Palavra.
Maria Madalena é testemunha ocular da Paixão, Morte e Ressurreição de Jesus (cf. Mc 14—16). A ela é confiada, pelo próprio Jesus, a missão de comunicar a todos sua ressurreição e “então Maria Madalena foi e anunciou aos discípulos: ‘Eu vi o Senhor.’ E contou o que Jesus tinha dito.” (Jo 20,18).
Santa Maria Madalena, rogai por nós!




(por: Pe. Júlio César Fernandes)
Postado por Pe. Júlio César Fernandes

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